Matéria – Revista Distribuição (Ano VIII – No. 88 – Março 2000 – Capa – páginas 38 e 39)
ABAD - Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados
Alta performance de Vendas e Marketing
Comunidade FoodService quer movimentar, pela lnternet, 10% das vendas para o segmento de alimentação fora do lar
A ABIA (Associação Brasileira da Indústria da Alimentação) e a Interchange —uma das principais empresas de tecnologia no comércio eletrônico business-to-business no Brasil — uniram-se para disponibilizar um novo e grande canal de distribuição para o segmento Food Service. A “Comunidade FoodService” (www.foodservice.com.br) pretende, em três anos, realizar eletronicamente negócios da ordem de US$ 1,5 bilhão. Nesse setor, a iniciativa é pioneira no Brasil e começou a operar experimentalmente em São Paulo, no mês de fevereiro, a partir da II Feira Abia 2000 Alimentação Fora do Lar. Em uma segunda etapa, terá cobertura nacional e, posteriormente, se estenderá ao Mercosul.
Estabelecimentos que preparam e fornecem alimentação fora do lar, como restaurantes, hotéis, catering, redes de fast food, clubes e empresas de refeições coletivas, entre outras do ramo, vão poder realizar transações mercantis de compra (com pagamento e entrega) diretamente das indústrias da alimentação e fornecedores de produtos, bens e serviços.
A Comunidade FoodService está assinando contrato com aproximadamente 180 fornecedores, que se manifestaram antes e durante a Feira. “O canal é aberto também para distribuidores”, ressalta o presidente da ABIA, Edmundo Klotz, que responde pela presidência da nova empresa, ao lado de Roberto Zabeo, diretor-presidente da lnterchange.
Depois de quase 10 anos atuando na área de EDI Mercantil e Financeiro no mercado brasileiro, oferecendo soluções para agilizar, reduzir custos e aumentar a eficiência das transações entre parceiros de negócios (a empresa é coordenadora de todas as atividades do laboratório ECR — “Supermercado do Futuro”, da ABRAS), a Interchange se volta para o potencial de crescimento do business to business pela Internet e entra como parceira da ABIA na criação da Comunidade FoodService. Controlada pelo Banco Real, Citibank, Unibanco e pela EDS - Electronic Data Systems, a Interchange também continuará atuando no processo como VAN, encarregando-se de traduzir as informações EDI para WEB quando se fizer necessário.
Para colocar a Comunidade FoodService em operação foram necessários investimentos de US$ 1 milhão. No primeiro ano de atividades, os recursos exigidos pelo negócio devem atingir US$ 3 milhões. “A Internet possibilita que parceiros de menor porte possam realizar tranzações eletrônicas, ao contrário do EDI”, destaca Roberto Zabeo. A mercadoria solicitada é entregue no local estipulado por operadores logísticos contratados pela Comunidade para esse fim ou pelo próprio fornecedor, se ele assim preferir, Os custos de distribuição tendem a ser reduzidos pela adoção de escala de entrega, devido ao alto volume de pedidos, cross-docking e consolidação da carga. Cinco operadores logísticos já foram confirmados como prestadores de serviço.
Aberto a pequenas, médias e grandes empresas, o site é um canal onde o fornecedor poderá também anunciar seus produtos, fazer lançamentos e promoções para um público qualificado. “O marketing one-to-one garante a eficácia da venda”, assegura Zabeo.
A Comunidade FoodServíce quer preencher lacunas existentes até então no segmento, como a carência de serviços e informações qualificadas e atualizadas e o intercâmbio entre profissionais e empresas das suas diversas atividades econômicas. Para isso, vai colocar à disposição dos usuários um banco de dados do segmento, obtido junto à associações e entidades representativas de todos os setores que compõem o FoodService, sejam elas do comércio, da indústria ou de serviços.
Como comprar
Para efetuar compras, os estabelecimentos entram no site da Comunidade e se cadastram, digitando dados sobre a empresa — CNPJ, endereço e ramo de atividade, entre outras. A partir daí, recebem uma senha que possibilitará o acesso, na seção compras, às listas de preços dos produtos ofertados por cada fornecedor — e podem efetuar seu pedido, que é processado e encaminhado ao operador logístico, que faz a entrega no local solicitado em até 48 horas. A nota fiscal é emitida eletronicamente.
A intenção é disponibilizar a partir de março, pagamento on line através dos bancos Real ABN Amro, Bradesco, Unibanco e Itaú e por cartão de crédito VISA (virtual e/ou físico), específico para as compras na comunidade. “Essas formas de pagamento são garantidas e diminuem os riscos e os custos inerentes a uma operação comercial comum. Além disso, o fornecedor recebe à vista pela venda efetuada”, ressalta Kátia Galvão, gerente de projetos da Comunidade FoodService. Outra vantagem apontada é a diminuição no custo logístico e de distribuição da indústria. “De 8% a 15%, em média, deve cair para até 4%”, calcula a gerente. “Ao proporcionar essa redução de custos, o comércio eletrônico possibilita que o fornecedor tenha condições de oferecer preços competitivos”, acrescenta.
Já aderiram à Comunidade Food Service, a Vigor, Melitta, Nestlé, Refinações de Milho Brasil e Caterplan. A fim de identificar e sanar eventuais problemas na operação, o site entrou em operação de forma controlada em fevereiro, restringindo-se a 25 estabelecimentos da Grande São Paulo, duas indústrias fornecedoras (Vigor e Melitta) e um operador logístico (Delta Records).
Oportunidade
Antonio Carlos Prado diretor de marketing do Grupo Vigor — que, ao lado da Melitta, participou do projeto-piloto de lançamento do portal Comunidade Food Service, em fevereiro passado — classifica como “incomensurável” a expectativa de crescimento do e-commerce. Ele acredita que, num prazo de três anos, o comércio entre empresas via Internet vai acirrar bastante a concorrência e quebrar todos os paradigmas do marketing, comprometendo até mesmo a competitividade das grandes marcas. “Se o cliente estiver atrás de preços baixos, vai poder chegar a eles facilmente”, explica.
Outra mudança apontada pelo diretor é a possibilidade de o cliente trabalhar com estoques baixos, do dia-a-dia até, e poder comprar de diversos fornecedores num só lugar, ganhando tempo e dinheiro. “A logística — isto é, receber as compras no tempo predeterminado — é o ‘X’da questão”, ressalta Prado. “O fornecedor não tem condições de entregar pequenos volumes e, por isso, opta-se pela contratação de operadores logísticos. Essa empresa tem de ser eficiente na entrega, precisa ter um estoque mínimo dos vários fornecedores com que trabalha, fazer cross-docking para a consolidação dos pedidos (que envolvem marcas diversas) e estabelecer uma rota adequada. Isso barateia o frete, porque ele é rateado entre todos os fornecedores que integraram a carga”, explica.
Prado: logística é prioridade
Na fase experimental de operação da Comunidade FoodService, a Vigor esteve presente com as marcas Vigor, Leco, Danúbio e Faixa Azul, porém com pequenos volumes e cuidando das entregas, a fim de “sentir melhor o resultado da iniciativa”. A empresa ainda não tem atuação expressiva no food service, mas pretende adaptar seus produtos para o segmento, valendo-se das boas perspectivas de negócios oferecidas com a Internet. Para o diretor de marketing do grupo, essa ferramenta de comunicação vai revolucionar tudo, desde as formas de comprar, vender, distribuir até a mentalidade das pessoas e empresas, que têm de estar abertas para aceitar esse desafio. “O trem está passando a uma velocidade tremenda e precisamos correr para não perdê-lo”, arremata.